Blogue de imagens e textos de e sobre a localidade de Vila Viçosa (Évora), Portugal - Coloque-nos nos seus FAVORITOS, para mais fácil acesso

domingo, 7 de agosto de 2022

[0328] Relembrando textos do programa das Festas dos Capuchos (1 - 2004)

Sobre as Festas de 2022, ver AQUI

Foto Joaquim Saial

Texto de 2004, inserido na publicação Programa das Festas

A FESTA DOS FRADINHOS DE BARRO, DE NOVO...

Joaquim Saial

As caianças foram feitas, organizou-se o programa, alindou-se o largo do convento e a praça de touros, montaram-se as duras traves das largadas, chegaram os divertimentos e as festas religiosas: estas, afinal, razão maior do evento. 

Estão aí as festas dos Capuchos!

De há muito que o calipolense não sabe viver sem elas, esteja no burgo ou mourejando longe dele – no caso, morto por voltar, sob este pretexto que espera sempre com carinho. E é no sucessivo retorno da festa e no reencontro dos que cá vivem com os que regressam fugazmente que está talvez o seu principal encanto. Veja-se como a gente da terra se lamenta (em geral na Praça, debaixo de uma laranjeira, sítio propício ao «corte» e à «costura»), quando a coisa falha: «Este ano não há Capuchos!» A frase, mil vezes repetida, quase soa a «Este ano não há aumentos de ordenado!» ou «Este ano nunca mais chove!» ou ainda «Este ano vai haver muita desgraça!». Mas, verdade seja dita, mesmo em tempos de vacas magras, a Câmara Municipal lá vai arranjando energias e cabedais para que a festarola se faça e a tradição se mantenha. Com agrado geral, como é óbvio, que se está em final de férias e o remate vem a jeito. Digamos que é altura ideal para ir pagar uma promessa aos fradinhos de barro ou pedir-lhes bom ano escolar para o filho que já reprovou três vezes, intercessão na cura de uma doença ou remendo no namoro em perigo... E lá vai toda a gente, estrada fora, vezes sem conta, a pé ou de carro, à tourada, ao arraial, à missa, à barraca dos frangos assados ou à das farturas (perdão, do «brinhol», alentejana palavra quase tão saborosa como o produto que designa), ouvir as filarmónicas, ver o fogo, até tentar a sorte na tômbola. Por vezes, o vento e o frio fazem das suas e as gentes precisam de se agasalhar. Mas no ar paira sempre um calor que nada tem a ver com o atmosférico. É algo de muito calipolense, muito nosso, muito desta «cidade de mármore», como agora – apesar dos dois mil anos passados sobre a descoberta e uso do produto – lhe começam (e bem!) a chamar, gasto que está o epíteto de «nobre vila ducal» ou «vila florida». Porém, de duques ela é (ou foi) e de flores, também. Mármore, duques e flores, boas coisas são e delas nos devemos orgulhar neste momento de Capuchos, mas também de tentativa de elevação de Vila Viçosa a Património Mundial da UNESCO, cujo processo decorre sem alardes, com o cuidado, calma e exigência necessários à obtenção de final favorável. 

Se todos nos soubermos unir em torno deste objectivo comum, que, a concretizar-se, decerto trará alterações qualitativas de grande nível à terra (como tem em geral acontecido nas que receberam o apetecido laurel), então seremos dignos dos nossos antepassados que souberam criar o pequeno universo de beleza que hoje nos cerca e aos visitantes mostramos com tanta vaidade.

Boa festa para todos, bons Capuchos, muita e muita alegria!


Sem comentários:

Enviar um comentário