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sábado, 27 de agosto de 2022

[0338] Joaquim Saial: colaboração na revista de cultura "Callipole" (Câmara Municipal de Vila Viçosa): mais de 400 páginas, ao longo dos 28 números, em três décadas


1 (1993) - O teatro e o cinema em Vila Viçosa – Breve visão, do século XVI à actualidade 

2 (1994) - Augusto Casaca – No rosto da memória [entrevista]

3-4 (1995-96) - Capitania – Histórias de São Vicente de Cabo Verde [ficção]

5-6 (1997-98) - Ricardo Gigante - Entrevista [entrevista]

                         - “Estudo sobre as antas e seus congéneres”, do padre Joaquim José da Rocha Espanca, e “Arquivos Históricos Municipais de Vila Viçosa”, do doutor Manuel Inácio Pestana

7-8 (1999-00) - Recensão / Pestana, Manuel Inácio – “Monsaraz – Os Documentos e a História, Apontamentos Sobre a História Local”

9 (2001) - “O último dia de Carlos Cambaia” [ficção]

10-11 (2002-03) - “A vingança de Heliodoro Patacas” [ficção]

12 (2004)     - Para começar… [texto como director da revista]

- Manuel Inácio Pestana, homem de três pátrias

- Textos esquecidos sobre Henrique Pousão e Florbela Espanca

- “O prisioneiro da ilha” [ficção]

13    (2005)   - Para começar… [texto como director da revista]

- “Tácia, a tartaruga fusca” [ficção]

14 (2006) - Para começar… [texto como director da revista]

- Boatos são-vicentinos: “O lato vampiro”, “Há petróleo na Rua de Lisboa!”, "A falsa morte do Naise”, e “O Ford do Tuta” [ficção]

- Vila Viçosa (pormenores) [fotografia]

15 (2007) - Para começar… [texto como director da revista]

- Três visitas reais retratadas na revista madrilena “Nuevo Mundo”: duas de D. Carlos de Bragança a Espanha (1902 e 1906) e uma de Afonso XIII a Portugal (1903)

- Breve nota sobre a presença de “o Sobreiro, Paisagem Alentejana” de D. Carlos de Bragança, na V Exposição Internacional de Arte de Barcelona, em 1907

16 (2008)  - Para começar… [texto como director da revista]

- Sete histórias de vida e morte: “O rio”, “A sereia”, “O candeeiro”, “Homem-lâmpada”, “O cordel”, “O bombista” e “Morte à beira da estrada”  [ficção]

- D. Carlos, um rei pouco sedentário

- Dois bilhetes-postais espanhóis ilustrados por D. Carlos de Bragança

- Viena à tarde [fotografia]

17 (2009) - Para começar… [texto como director da revista]

- 10 notícias sobre a estátua a D. João IV, em Vila Viçosa, no “Diário de Notícias” de New Bedford, Massachusetts, Estados Unidos da América (1938-1941)

- Três histórias: “Um emprego acertado”, “Ferro, prata e ouro” e “Piduca, o galo barítono” [ficção]

- Henrique Pousão – Entre o Porto e Vila Viçosa, a atribulada história de um monumento

- Budapeste [fotografia]

- Vila Viçosa de há meio século, em dois artigos do “Diário Popular”

18 (2010)  - Alguns aspectos da vida do Rei D Luís, através da imprensa espanhola

19 (2011)  - Duas entrevistas do escultor Francisco Franco  ao “Diário de Notícias” (1936) e ao “Diário de Lisboa”, 1940

20 (2012)  - Uma década de Vila Viçosa (1.ª parte: 1953-1955)

21 (2014)  - Uma década de Vila Viçosa (2.ª parte: 1956-1958)

22 (2015)  - Correspondência de Joaquim Torrinha para Joaquim Saial (12.6.1990-25.1.2013)

23 (2016)  - A folha oficial do Estado  e Vila Viçosa. Alguns exemplos curiosos do século XX 

24 (2017) - Elogio intelectual ao Dr. Joaquim Torrinha, por ocasião da homenagem que lhe foi proporcionada pela Câmara Municipal de Vila Viçosa, a 20 de Outubro de 2012

25 (2018)  - Alguns programas significativos das Festas dos Capuchos

26 (2019) - Arte pública escultórica de Vila Viçosa – Monumentos de homenagem (Freguesia de Nossa Senhora da Conceição/São Bartolomeu)

27 (2021)  - Calipolenses na Grande Guerra – Condecorações, louvores, punições e outros factos alusivos aos militares naturais de Vila Viçosa inseridos no Corpo Expedicionário Português a França

A sair em Novembro de 2022

28 (2022)  - Achegas à biografia dos padres calipolenses irmãos Rocha Espanca, António Joaquim e Joaquim José, com desenvolvimento de alguns assuntos em que o segundo interveio ou referiu

- Um calipolense no Exército, do tempo da monarquia e da Grande Guerra, expedicionário em Moçambique: a biografia do 1.º sargento Francisco Martins

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

[0334] Relembrando textos do programa das Festas dos Capuchos (7 - 2016)

  Sobre as Festas de 2022, ver AQUI

CAPUCHOS, A FESTA MAIOR DE VILA VIÇOSA, NO INÍCIO DOS ANOS 20... DO SÉCULO XX

Joaquim Saial

Grafia original

A notícia mais antiga que aqui trazemos sobre a Festa dos Capuchos é do diário regionalista de Évora, "O Alentejo", de 27 de Agosto de 1921 [1]. Diz-se ali que Vila Viçosa ia "tirar-se do (…) costumado torpor em que sempre se [encontrava], pelas anunciadas festas em honra do Senhor Jesus da Piedade [2]". O apontamento anónimo, mas pelo teor certamente da pena de correspondente da vila, para além de falar nessa quebra de rotina do langor local, detinha-se em considerações interessantes e elucidativas da vivência calipolense desses tempos de há cerca de 100 anos [3].

Festas estas, que vão ser celebradas com a maior pompa possivel, devido aos esforços empregados pela Comissão constituida, da qual fazem parte verdadeiro amigos, procurando sempre engrandece-la em tudo que seja necessario.

São êles os srs. Padre Manso [4], Miguel Caeiro, Antonio Branco, José Aldeagas, Antonio Pombeiro e Pedro Martinho que, com a sua muito bôa vontade, teem conseguido vencer os maiores obstáculos que se teem metido de permeio.

Festa antiga e concorridissima por todas as terras do Alentejo, que ocorrem divertir-se nos bailes e descantes populares que duram por essas noites adiante.

Quanto é belo tudo recordar-se tudo quanto se diga histórico?...

O Templo e o Convento dos Capuchos onde terão logar nos dias 11 [5], 12 e 13 do mez próximo as festas tão tradicionais, já data do ano 1606 (…)

O texto prossegue com descrição mais ou menos pormenorizada do edifício e mais algumas indicações que hoje são significativas em termos de história do mesmo e da festa:

O edifício acha-se quasi todo em bom estado de conservação, contribuindo um frade de nome João Pedro Serra, que velou por ele sempre com carinho por muitos anos.

Actualmente pertence á viúva de António Carlos da Silveira Menezes, que tambem lhe deu a sua justa conservação.

Terminava o artigo com referência à Casa de Bragança e de novo a Vila Viçosa, chamando-lhe "modestíssima terra que fica a um canto da província do Alentejo" mas "sempre olhada como devia merecer, pois o seu nome era pronunciado com o respeito que lhe era devido."

Ressaltam então da saborosa narrativa, para além de dados sobre a comissão das festas, os nomes de um dedicado conservador e de pelo menos uma proprietária do local, e a menção aos bailes e descantes populares que duravam até de madrugada.

O mesmo jornal, na sua edição de 10 de Setembro de 1922 [6] volta a aludir às festas. Sob o título "Vila Viçosa – Deslumbrantes festas em honra do Senhor Jesus da Piedade nos dias 10, 11 e 12", podia ler-se o seguinte texto:

Com um vastissimo e magnifico programa realizam-se hoje, amanhã e depois as imponentes festas em Vila Viçosa, linda e florescente vila alentejana.

As tradicionais festas denominadas dos Capuchos devem este ano deixar a perder de vista as celebradas nos anos anteriores a avaliar pelo grandioso programa, que não publicamos na integra, por absoluta falta de espaço.

Festas religiosas, pregando o eloquente orador sacro, exm.º sr. P.e Lopes Manso, excelentes concertos musicais pelas bandas dos Francêses, do Barreiro e Humanidade de Palmela e garraiadas explendidas, tudo, enfim, promete atraír enorme concorrencia a tão afamados festejos regionais.

Nada de muito diferente dos tempos actuais, como vemos, incluindo as garraiadas, uma das faces da vertente taurina que as festas dos Capuchos ainda mantêm, consubstanciada em touradas, largadas e brincadeiras taurinas.

Precisamente desta festa, "O Alentejo" faz três dias depois [7] descrição pormenorizada, através de Ruy de Mello. O autor começa por se referir à modernidade dos tempos e conta que em vez de ir, como antes se fazia, num carro de molas de azinho, chegou de comboio, "um comboio vagaroso, onde uma multidão ruge e canta, apertada como em latas de conserva". É este o ambiente que Mello nos oferece e que parece ser o transmitido pelos que de Évora se dirigiam a Vila Viçosa, em animada romaria, para os divertimentos capuchais. 

Chegado, o nosso jornalista vai a pé para o terreiro festivo e disso se queixa: "Da estação até aos Capuchos é uma boa tirada. Fui a pé por ignorar que existem trens que fazem a carreira do recinto da festa para a vila e vice-versa. Pelo caminho, muito pó – aquele pó que é companheiro do sol aqui no Alentejo…" Mais duas referências curiosas, portanto, verificando-se que a afluência de gente proveniente dos arredores era tanta que até organizadas carreiras de trens havia… por caminhos de terra batida, numa urbe ainda com poucos empedrados, pouca calçada. Mas mesmo assim chega num instante ao templo: "Achei-me sem querer, quasi, no largo da igreja. Havia, áquela hora umas raras pessoas. Da igreja vinham cantos religiosos onde destacava uma voz de falsête capaz de acordar um morto." 

Entretanto encontra Raul Matroco [8] no adro da igreja e na companhia do amigo prossegue a sua visita ao local. Este Matroco, que também escrevia no jornal, era possivelmente calipolense ou pelo menos de família da terra, pois na casa de uns primos Matroco falecera em 1884 Henrique Pousão. Inevitavelmente, comenta o quadro dos fradinhos escultóricos que velam um companheiro: "É muito curioso e ráro este Presépio [9] avultando muitos Capuchos com dedos, braços e pernas quebradas pelo rapazio e concertadas há pouco tempo."

E entra no templo. Ali, dá com o Padre Lopes Manso em plena e animada sessão oratória. Esta, embora não de teor religioso, fala dos céus. Mas uns céus de aviação nos seus tempos áureos. O Padre Manso gabava aos fiéis, "no meio do mais rigoroso silêncio", a gloriosa viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, recentemente realizada, com várias peripécias e transtornos, entre 30 de Março e 17 de Junho de 1922. Mas acabado este moderníssimo sermão, começou a ladainha. Mais alguns cânticos e a cerimónia estava terminada.

É então hora de almoçar, em casa do capitão Francisco Ribeiro, que conhece por intermédio de Raul Matroco e o recebe com "requintes de gentileza". E aproveita para gabar a simpatia das gentes da terra, lembrando que se em Vila Viçosa já não existiam na altura descendentes de reis, pelo menos ali viviam ainda representantes da velha fidalguia portuguesa, pelo nascimento e pela educação.  

Às cinco horas, está na corrida de touros, de imediato interrompida por fortíssima carga de água.

O pânico foi enorme, apertando-se toda gente de encontro á porta principal. Os vestidos de organdí [10], de que havia profusão, pegavam-se aos corpos das mulheres que nos faziam lembrar certas bonecas muito escorridas de ancas e de seios… As vacas eram razoáveis. O pessoal – amadores – fez o que poude, á custa de muito trambolhão que provocou risota.

Fraca corrida, de cartel para esquecer, e chuva a cântaros, numa tarde sem história mas com farto elemento feminino, ao que parece – ou que ao autor pareceu, em sugestiva observação anatómica. Este, voltará ainda à lama do arraial à noite, para ouvir as bandas atrás anunciadas, do Barreiro e de Palmela, e ver o fogo-de-artifício, junto à "igreja lindamente iluminada". 

Cerca de 100 anos depois, nada parece ter mudado, tirando a chegada de vendilhões de américas e áfricas e de etílicas barracas cervejeiras que nos dias de festa agora se avantajam, na pracinha de três igrejas, algumas casas, um coreto, um chafariz e um redondel. Ou seja, apesar de tudo, a tradição aqui, ainda é o que era…

NOTAS:

[1] P. 4.

[2] Do conjunto monástico que dá suporte religioso às festas constam a Igreja de Nossa Senhora da Piedade, o Convento de São Francisco e respectiva cerca. São remotas as suas origens, de cerca de 1550, tendo passado por vicissitudes várias ao longo dos séculos. A construção actual é mais tardia (1606-10). O conjunto está classificado como Monumento de Interesse Público, através da Portaria n.º 639/2012, DR 2.ª Série, n.º 212, de 2.11.2012. A portaria foi assinada em 22.10.2012 pelo então Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas.

[3] Esta e as seguintes transcrições seguem a grafia da época.

[4] Padre Lopes Manso, como veremos, em notícia do ano seguinte.

[5] No texto não existe esta vírgula que aqui introduzimos, para facilitar a leitura.

[6] P. 2.

[7] 13.09.1922, p. 1.

[8] Raul Matroco fora co-fundador em 1919 do Grupo Pró-Évora. Em "A Cidade de Évora" (Boletim da Comissão Municipal de Turismo de Évora), Ano 1.º, n.º 4, Setembro.1943, p. 16, Celestino David escreve que Raul Matroco era primo de Pousão.

[9] Designação incorrecta, pois trata-se de um velório, mas que, como vemos, no texto vem em itálico.

[10] Alguns deles decerto feitos pelas irmãs Saial, Conceição e Joana, tias-bisavós do autor deste texto. Afamadas costureiras da vila, nessa altura e em décadas posteriores, tinham cada uma seu negócio de modista: Conceição, no quarteirão destruído nos anos 40, depois na R. Padre Joaquim Espanca e por último no Terreiro de Santo António (actual n.º 10), até finais dos anos 50; Joana, na R. Câmara Pestana, n.º 60, até bastante mais tarde.

[0333] Relembrando textos do programa das Festas dos Capuchos (6 - 2009)

 Sobre as Festas de 2022, ver AQUI

Foto Joaquim Saial

Texto de 2009, inserido na publicação Programa das Festas

O SÍTIO DOS CAPUCHOS E A SUA FESTA, VISTOS DA AMÉRICA…

Joaquim Saial

O Largo dos Capuchos tem momento alto de uma mão cheia de dias, todos os Setembros, e depois apaga-se – literalmente… Finda a festa, desaparecido o público, abaladas as barracas, retirados os altifalantes, desmontados os arcos, limpos os lixos e fechada a igreja que lhe dá título (e a janelinha de fradal e fúnebre recolhimento), retoma o seu ar tranquilo de zona periférica da vila, sempre poético e algo misterioso. Mas não há dúvida de que os Capuchos têm história e manifesta fama no exterior e até na América se sabe do local e do evento que à beira do Outono ali se realiza. Sem mais delongas, divulguemos animado programa e três curiosos factos todos eles esquecidos na bruma do tempo, por nós pesquisados no já desaparecido "Diário de Notícias" de New Bedford, Massachusetts, Estados Unidos da América, um dos mais importantes periódicos étnicos de sempre naquele país (com grafia actualizada). 

30.Setembro.1927 – Vila Viçosa, 25. – Aproximam-se as festas do padroeiro de Vila Viçosa, Senhor Jesus da Piedade, que são por excelência as festas da vila. A comissão organizadora não se tem poupado a esforços para que elas atinjam o máximo brilhantismo e correspondam em tudo às tradições de bairrismo e hospitalidade que caracterizam este bom povo calipolense. As festividades religiosas serão pomposas e brilhantes e principiarão no dia 11 de Setembro [a notícia chegou aos EUA atrasada, como se vê por esta data – ou então queria dizer-se “Outubro”…] pela imponente e majestosa procissão, em que se incorporarão milhares de romeiros e que sairá da igreja de Nossa Senhora da Conceição, recolhendo à igreja dos Capuchos, onde se celebrará a festa a grande instrumental. Os sermões durante os três dias foram confiados a distintos e consagrados oradores. As iluminações serão surpreendentes e o fogo-de-artifício é dos consagrados pirotécnicos Manuel da Silva & Filhos, de Viana do Castelo, que este ano apresentarão verdadeiras surpresas de pirotecnia. A corrida de touros está definitivamente organizada e de maneira tal que satisfará os mais exigentes aficionados. O curro é pertença do conhecido lavrador Francisco Duque, que a capricho fez o aparto, por ser a primeira vez que fornece touros para esta linda praça. Cavaleiros, dois, os distintos e aplaudidos Rufino Pedro da Costa e seu filho Artur Ribeiro da Costa. Bandarilheiros, um belo grupo de profissionais, e forcados o destemido e arrojado grupo de Lisboa capitaneado pelo terrível Chico Marujo e do qual faz parte o valente pegador Matias Leiteiro. Está já assegurado o concurso de três das melhores bandas de música da província, entre elas a Sociedade Musical União Setubalense, que pela primeira vez visita Vila Viçosa. Haverá desafios de futebol e muito em breve deve ser organizado o programa definitivo. (…) Em Vila Viçosa trabalha-se afanosamente para serem recebidos condignamente todos os forasteiros que pela ocasião das festas a visitem.

8.Agosto.1931 – INCÊNDIO NUMA EIRA – Vila Viçosa, Julho 9. – Nas eiras do Outeiro de Ficalho, próximo dos Capuchos, onde diversos agricultores reúnem e debulham os seus cereais, manifestou-se fogo, hoje, quando alguns deles tratavam das suas debulhas, com animais de trabalho. O sinistro teve começo em uma das medas, tendo-se comunicado a todas as demais ali reunidas. Fora inúteis todos os esforços empregados para o dominar. Do quartel do grupo de esquadrões de Cavalaria 3, de onde o fogo foi visto, partiram todas as praças com os recursos de que dispunham, bem como muito povo, logo que foi dado o sinal de alarme, tendo da horta de S. Luís sido levada a água para a extinguir. Apareceram também umas pipas em carros de particulares e uma bomba da Casa de Bragança, conseguindo-se com todos estes elementos salvar os cereais que se encontravam em varias medas na parte Leste, onde ainda as chamas chegaram, animadas pelo vento Norte. Parte dos cereais devorados pelo incêndio estava segura na Companhia Portuguesa de Seguros; outra, na Pátria. O rendeiro das eiras, Manuel Inácio Pereira, sofreu outros prejuízos de importância, pois perdeu uma cabana de madeira e parte dos utensílios que nela tinha. Alguns carros e animais de trabalho que estavam junto das eiras foram salvos com dificuldade. Causou grande estranheza o facto de uma bomba, que há anos fora oferecida, por um particular, à Câmara, ter ali aparecido com a mangueira inutilizada e sem agulheta.

23.Outubro.1933 – ROUBO E BURLA – Évora – No domingo, o motorista Joaquim Lopes, o "Bombo", desta cidade, foi à vila de Azaruja, levar, no seu carro, alguns indivíduos. Ali, apareceram-lhe novos fregueses, que seguiram para Vila Viçosa, onde se realizava a festa dos Capuchos. Quando o carro chegou à referida vila, um dos passageiros pagou a despesa e todos abraçaram o motorista à despedida, e aproveitaram a ocasião para lhe roubarem a carteira, com 2.000 escudos e vários documentos. O "Bombo" regressou, depois, à Azaruja e só então deu pela falta da carteira. Voltou novamente a Vila Viçosa, à procura dos gatunos, que já tinham seguido, também de automóvel, para Estremoz. (…)

20.Outubro.1947 – S. Romão (Vila Viçosa) – Em consequência de um jumento, em que seguia, se ter espantado e saltado um muro, perto dos Capuchos, ficou gravemente ferido o jornaleiro António Espada, de 56 anos, casado, serviçal do sr. João Segurado, lavrador de Vila Viçosa. O pobre homem, que se dirigia para aquela vila, seguiu para o hospital dali, donde transitou para Estremoz.

A todos os calipolenses e forasteiros desejamos, nesta edição de 2009, uma feliz Festa dos Capuchos, com programa a gosto, sem incêndios, carteiras roubadas (que ainda por cima o tempo é de crise) e sobretudo sem coices de burro… mas com animado convívio, boa música, saborosos petiscos, rijas pegas, memorável tourada e alguma inevitável reflexão religiosa, conforme o sentir de cada um – já que a Festa, como o nome bem publicita, se faz em memória dos Capuchos, frades pobres e de benemérito e desinteressado empenho para com o próximo.

[0332] Relembrando textos do programa das Festas dos Capuchos (5 - 2008)

Sobre as Festas de 2022, ver AQUI

Foto Joaquim Saial

Quando este texto foi escrito, em 2008, o presidente francês era Nicolas Sarkozy

UMA FAMÍLIA CALIPOLENSE

Joaquim Saial

Todos os anos, no início de Setembro, metem-se no carro, descem de Paris rumo a sudoeste, galgam a França ocidental diagonalmente, transpõem a grandeza da Espanha, entram por Badajoz e cá estão eles em Vila Viçosa onde, no primeiro dia e durante mais dois ou três, respondem às sacramentais perguntas: “Atão, já cá estás? Atão quando te vás embora?”. Depois é gozar à farta, encher os sentidos de sons, odores e sabores da terra, fruir ao máximo os vinte e tal dias de “vacanças”, sobretudo os de Festas dos Capuchos, que a “usina” lá está na Gália à espera, apesar da crise, apesar de tudo, por qualquer motivo desconhecido ou deus generoso que os protege.

Anacleto Palhinhas, o pai de família, esforçado torneiro-mecânico numa fábrica de automóveis e amante estrénuo da selecção nacional lusitana, desembarcou este ano equipado com a camisola de Cristiano Ronaldo junto à sua casa da Quinta Augusta – que toda a gente sabe ter sido forrada por fora com azulejos de casa de banho que comprou por preço barato, como resto de colecção. Após o primeiro dia, de arrumos, deixou de comer em casa e fez até agora mais de 40 incursões pelas tabernas, bares e restaurantes da vila e prepara-se para mais uma vez ser herói das largadas, mantendo o seu palmarés de feliz agarrador, sem colhidas de maior. “É da cerveja e do Borba, a barriga assim acolchoada resiste a qualquer par de cornos”, diz ele, orgulhoso.

Maria Guilhermina, a cara-metade, divide-se entre as novenas em Nossa Senhora, de quem é fiel devota desde que se entende, e a coscuvilhice com as vizinhas que lhe põem em dia tudo o que se passou na vila, nos onze meses anteriores. Gosta de se gabar do seu emprego de secretária na mairie da capital francesa, mas ninguém sabe que afinal é caixa num McDonald’s onde contudo ganha mais que um professor em princípio de carreira, em Portugal. Aguarda com expectativa a missa nocturna nos Capuchos e a vinda do Roberto Leal, sem saber que os filhos a enganaram com o nome do principal artista convidado. Mas quem a mandou esquecer-se toda a semana deste programa em cima do frigorífico, sem o ler?

Marianita, a filha, está apaixonada há três verões por um saxofonista da filarmónica. O rapaz fica bem na farda e nem as borbulhas que lhe povoam a cara fazem à rapariga parar os suspiros quando o vê arrancar solos vibrantes numa marcha ou num pasodoble. Ele sente-se mais inclinado pela Zéza, que mora para os lados do lago e é ajudante de cabeleireira, mas desde que soube que a Marianita é amiga da filha de um dos porteiros do parisiense Le Slow Club, onde se toca o melhor jazz europeu, já olha mais para ela, pensando que de Vila Viçosa ali e dali ao Blue Note nova-iorquino é um saltinho. Marianita irá passar as noites de festa especada à volta do coreto, a olhar para cima…

Chico, filho mais novo do casal Palhinhas, gasta os dias a jogar à bola com os amigos no Carrascal ou então na piscina, em longos banhos e estrondosos mergulhos de chapão que atormentam os outros utentes. Gordo e anafado, alterna os pequenos-almoços comendo duas tibornas que mete inteiras na boca e vai digerindo com a ajuda de um galão, num dia, ou uma tira de brinhol que gosta de mastigar bem coberta de canela e açúcar, no outro. Não sai ao pai na afoiteza de pega taurina mas é grande aficionado de touradas e jamais perde esse espectáculo, acompanhado de um tio que ainda foi colega do Trincheira mas que achou que trabalhar nos mármores dava mais. Ambos esperam pela corrida deste ano, com grande expectativa. Anacleto já entrou com os euros para os dois bilhetes…

Mas a família tem um quinto “elemento”: Nicolas, o terrier assim rebaptizado após a eleição do actual presidente francês e que antes se chamava Jacques, em honra do anterior. Nicolas, tal como o dono, passa os dias na rua. Descobriu na mata municipal uma cadela que (pasme-se!) gosta de açorda, coisa nunca vista, nestes tempos de odorífera comida de cão enlatada. A canídea reside no Bairro Operário e Nicolas já lá vai a casa. A dona da namorada gosta dele e dá-lhe não só açorda como migas, por vezes com um pedaço de carne de porco ou toucinho frito à mistura. O casal vive um grande romance e parece que ele já prometeu à dona do seu coração que não irão ver o fogo de artifício, do qual a bicha tem medo mortal: “Je resterai ici avec toi, ma chérie!...”, assegurou-lhe.

Chegado a este ponto da presente prosa, o leitor há-de estar cheio de curiosidade e com desejo de conhecer os cinco citados exemplares. Observe bem, esteja atento, que há-de vê-los algures por aí, nestes dias de festa. Provavelmente, anda cada um para seu lado, conforme os interesses pessoais. Claro que é aborrecido chegar ao pé de um estranho e perguntar-lhe se é o sr. Anacleto; ou junto de uma senhora e atirar-lhe com um «É a D. Maria Guilhermina?» Mas se no arraial vir um quatro-patas com o focinho sujo de pão e a cheirar a coentros, poejos ou alhos, tente um “Nicolas!, Nicolas!” Pode ser que resulte…

[0331] Relembrando textos do programa das Festas dos Capuchos (4 - 2007)

  Sobre as Festas de 2022, ver AQUI

Foto Joaquim Saial

Texto de 2007, inserido na publicação Programa das Festas

O CÓDICE DOS CAPUCHOS (versão curta - a versão longa, que dada a dimensão teve de ser encurtada, para caber na página do programa, pode ser lida a seguir a  esta)

Joaquim Saial

Um dia, cerca de 1713, alguém deu a ordem para a feitura da chamada Capela do Trânsito de S. Francisco, no convento dos frades capuchos de Vila Viçosa. Abstraindo o restante aparato artístico do reduzido local, o que mais ali sobressai é a cena escultórica, populista e anónima, em que o defunto poverello “vê” a sua morte lamentada por oito seguidores. Ora, segundo rezava esquecido e também incógnito Códice dos Capuchos existente até há pouco na Câmara Municipal de Vila Viçosa, onde o encontrámos por mero acaso de investigação histórica, a figura mais próxima da janela gradeada, a do lado direito, representaria o calipolense frei Bartolomeu da Conceição, cujo espírito dentro dela terá estado guardado, por vontade de S. Francisco, desde o óbito daquele, à volta de 1715, até 1 de Novembro de 1755.

Motivos do penoso castigo e do inesperado fim deste?... 

Referia o citado Códice que o nosso monge, por alturas de Setembro se retirava do ascetério, dando a entender que partia em missão doutrinária pelos olivais, searas e povoados das cercanias mas que ao invés disso envergava roupas seculares, cortava a barba que lhe compunha o rosto durante os outros onze meses do ano, cobria o crânio rapado com um gorro de flanela e se ficava pela vila, disfarçado de viandante acabado de chegar de Lisboa. Então, saboreava até se saciar as iguarias das tabernas da vila, enchia-se com as tibornas e o sericá locais, degustava o afamado Borba, (tudo prazeres proibidos nos Capuchos, que mendicantes não podiam ter tais faustos comestíveis) e, pior que isso, fazia a corte às servas das casas nobres, com especial predilecção por aquela sempre renomada cozinheira do Paço Ducal, a Joana das Migas – que, contava-se, teve oito filhos, cujo pai nunca ninguém conheceu, todos nascidos em Junho… Passado esse mês de liberdade auto-imposta, o bom frade voltava às suas obrigações religiosas, humilde e laborioso, rezando substancial parte do dia e na outra trabalhando na horta do convento, onde os seus legumes eram os mais viçosos e a sua hortelã a que maior efeito aromático dava à sopa da panela.

Mas esse comportamento, digno onze meses por ano, não terá pesado quando na hora da morte S. Francisco foi avaliar a alma do discípulo, na companhia de S. Pedro – a conduta imprópria, de só 30 dias, repetida ano após ano, teve maior força e o castigo foi ficar a sua alma encerrada numa das estátuas de barro da famosa capela do convento em que passara parte significativa da vida terrena. Foi a partir daí que, rezava o Códice dos Capuchos, factos estranhos começaram a acontecer. Por vezes, sempre em Setembro, junto à Capela do Trânsito, ouvia-se misterioso lamento, misto de ladainha e choro, que não só amedrontava os que por ali passavam, como os próprios irmãos – que logo faziam grandes penitências e só não ficavam com os cabelos em pé, porque frade que se preze não os tem no alto do cocuruto… A partir daqui, o Códice nada mais dizia sobre os eventos ligados a frei Bartolomeu.
Saltemos para 1 de Novembro de 1755. O aparatoso terramoto que destruiu Lisboa e escalavrou mais localidades do país, também agrediu com força a vila calipolense. O sismo, para além de outras graves malfeitorias provocadas na terra, deu cabo de parte significativa da nave e coro da igreja do convento capucho. Resta-nos imaginar que na estátua onde estava enclausurado o espírito de frei Bartolomeu se produziu uma fissura e que ele por aí se terá escapado, finalmente…

Mais tarde, alguém teve a feliz ideia de criar as festas dos Capuchos, hoje famosas em todo o território nacional. Mas se o Códice nada mais contava sobre frei Bartolomeu, é facto que algo de imaterial ainda paira no ar, proveniente daquele sítio, que confirma a arenga que aqui trouxemos. Se não, vejamos: 

Nunca falham as largadas de touros, durante a Festa dos Capuchos. Quantas pessoas já morreram por causa delas? Nenhuma! E vários dos que estiveram em situação mais delicada, ficando contudo apenas com um dedo partido, uma entorse ou simples galo na cabeça, dizem que no momento em que o toiro lhes ia marrar em parte vital sentiram oportuno empurrão que afastou as ornamentações do bicho das suas carnes. 

Quantas vezes houve frio e forte ventania no arraial? Tantas e tantas! De vez em quando, lá se vê uma peruca pelos ares, echarpes voando, as donas atrás delas, em cima dos seus chinelinhos de salto alto, mas do coreto onde não falha uma filarmónica a tocar, já alguém viu escapar-se uma pauta musical? Uma sequer? Jamais! E houve músicos que falaram de fenómeno singular: folhas sendo mudadas, sem eles lhes tocarem, na altura certa, à medida que a música se ia desenrolando.

Não há Festa dos Capuchos sem fogo de artifício, mas tirando uma ou outra telha chamuscada ou horta em que se queimam duas ou três alfaces, alguém já viu, por causa do fogo, haver um incêndio? Jamais! E a Mariana do Cruzeiro, que ali mora, disse-nos que na última festa, quando a corda da roupa começou a arder devido a um foguete, as chamas pararam mesmo junto a uma peça íntima sua, comprada a uma cigana no mercado da semana anterior.

Nas barracas dos frangos assados, alguém já ficou com um osso de galináceo atravessado na garganta? Jamais! E o Zé Borrego, que adora franguinho na brasa e o acompanha com fartas litradas de tinto, quando já trôpego da bebedeira caiu em 2005 perto da igreja de Santiago, não sentiu a cabeça ser-lhe amparada por mãos invisíveis, antes de tombar no lajedo, onde caiu suavemente, sem prejuízo da cachimónia?

Enfim, não nos alonguemos mais em exemplos de bondade do espírito arrependido e caridoso de frei Bartolomeu, pois os aqui descritos, entre as dezenas que todos na terra dos duques conhecem, são mais que suficientes. Que os calipolenses e os forasteiros que este ano vêm aos Capuchos se acolham à protecção do simpático cenobita, certos de que nada lhes perturbará o divertimento procurado nem a aura de consagração que as Festas de Vila Viçosa de há muito têm. 

Quanto à história, os que não acreditaram nela, é porque são mesmo incrédulos. Há gente assim… Relativamente a isso, nada a fazer. E para os que são como S. Tomé, é escusado procurar a brecha que o terramoto gerou na escultura, porque os fradinhos foram restaurados em tempos recentes. É verdade, já nos esquecíamos de dizer que, por triste azar, o Códice dos Capuchos tombou para dentro de um balde de cal, durante as últimas pinturas no edifício dos Paços do Concelho e ficou completamente destruído. A asseada mania alentejana das caianças por altura das festas, às vezes resulta em irremediáveis desgraças, como esta…


O CÓDICE DOS CAPUCHOS (versão longa, inédita até agora)

Naquele 6 de Julho de 1606, quando o duque D. Teodósio II e seu filho João, futuro rei IV do mesmo nome, assistiram ao lançamento da primeira pedra do Convento de S. Francisco dos Capuchos, faltavam escassos quatro anos para que o cenóbio ficasse pronto, a 31 de Maio de 1610. 

Um dia, cerca de 1713, alguém deu a ordem para a feitura da chamada capela do Trânsito de S. Francisco. Abstraindo o restante aparato artístico do reduzido local, o que mais ali sobressai é a cena escultórica, populista e anónima, em que S. Francisco, morto, “vê” a sua morte lamentada por oito fiéis seguidores. 

Saltemos para 1 de Novembro de 1755. O aparatoso terramoto que destruiu Lisboa e mais terras do país, também agrediu a vila calipolense. O sismo, para além de outras graves malfeitorias provocadas na terra, deu cabo de parte significativa da nave e coro da igreja do convento capucho. E era ali, nesse mesmo coro que, em formoso armário de pau-santo oferecido por El-Rei D. João V se guardava o Códice dos Capuchos, então desaparecido, escrito por frei Afonso de Castro, famoso superior da Casa. Aqui, o leitor dirá: lá vem mais um códice, não bastavam o do Dan Brown e o do tal pivot do telejornal… Bem, a verdade é que, sem provas que não sejam os testemunhos orais passados de geração em geração entre moradores próximos do adro do estabelecimento religioso e dos outeiros da Forca e do Ficalho, onde a informação foi por nós bebida, resta-nos acreditar nestes últimos – mais ainda, tendo o segredo passado ao povo através do último frade, João Pedro Serra, que assegurou a guarda do edifício até 1863, após a extinção das ordens religiosas de Maio de 1834…

Resumamos: segundo as nossas fontes, o Códice, livro de umas 500 páginas, entre outro historial da comunidade, referiria a dado passo que as figuras de barro representavam frades genuínos, que tinham andado por este mundo de Deus, pregando os ensinamentos do poverello de Assis. E que um deles, o mais próximo da janela, no lado direito da cena, figuraria frei Bartolomeu da Conceição, calipolense que adoptara o nome das duas freguesias urbanas da vila e fora, às ordens do governador Cristóvão de Brito Pereira, um dos mais valorosos defensores do assédio de Caracena ao castelo, em Junho de 1665, no epílogo da Guerra da Restauração. O heroísmo de frei Bartolomeu, que tanto municiava e disparava sem parar o seu canhão no parapeito da fortaleza, como ministrava extrema-unção aos que a seu lado morriam sob os efeitos da metralha espanhola, foi depois elogiado pelo marquês de Marialva que estranhou que aquele frade se tivesse batido tão bem como o mais bem treinado soldado das suas tropas. Mais admirado ficaria se soubesse que o monge tinha múltiplas personalidades, das quais só exibia a que no momento mais lhe interessava. Ao que parece, o Códice dos Capuchos divulgava todas e cada uma delas, com o máximo detalhe. 

Ora uma delas, a que mais nos importa, revela que o nosso frade, por alturas de Setembro se retirava do ascetério, dando a entender que partia em missão doutrinária pelos olivais, searas e povoados das cercanias mas que ao invés disso envergava roupas seculares, cortava a barba que lhe compunha o rosto durante os outros onze meses do ano, cobria o crânio rapado com um gorro de flanela e se ficava pela vila disfarçado de viandante, acabado de chegar de Lisboa. Então, provava até se saciar as iguarias das tabernas da vila, enchia-se com as tibornas e o sericá locais, degustava o afamado Borba, (prazeres proibidos nos Capuchos, que ascetas não podiam ter tais faustos comestíveis) e fazia a corte às servas das casas nobres, com especial predilecção por aquela sempre renomada cozinheira do Paço Ducal, a Joana das Migas – que, contava-se, teve seis filhos, cujo pai nunca ninguém conheceu, todos nascidos em Junho… Passado esse mês de liberdade clausural auto-imposta, o bom frade voltava às suas obrigações religiosas, humilde e laborioso, rezando substancial parte do dia e na outra trabalhando na horta do convento, onde os seus legumes eram os mais viçosos e a sua hortelã a que maior efeito aromático dava à sopa da panela…

Em dia incerto de 1714, como todos os seres viventes, morreu.

Foi a partir daí que, rezava o Códice dos Capuchos, factos estranhos começaram a acontecer. Por vezes, sempre em Setembro, junto à capela do Trânsito ouvia-se misterioso lamento, misto de canto e choro, que não só amedrontava os que por ali passavam, como os próprios frades – que logo faziam grandes penitências e só não ficavam com os cabelos em pé, porque frade que se preze não os tem no alto do cocuruto… Inesperadamente, como o motivo que lhe deu fim, a partir de Setembro de 1756 os estranhos sons deixaram de se ouvir. Toda a gente tinha estranhado que o terramoto de Novembro anterior tivesse feito tantos estragos, mas que na capela do Trânsito apenas uma figura tivesse aberto leve fissura – precisamente a do frade mais próximo da janela, à direita de quem olhava as figuras… Frei Afonso escreveu no Códice que se pensou que a alma de Bartolomeu da Conceição fora ali encerrada por intercessão de S. Francisco, em virtude dos desvarios terrenos do seu seguidor – denunciados à hora da morte, por Joana das Migas aos filhos reunidos à sua volta e que, desbocados, logo os propalaram por toda a vila… – e que entretanto, devido à quebra do invólucro argiloso, de lá se escapara finalmente.

Mais tarde, alguém teve a feliz ideia de criar as festas dos Capuchos. Quanto ao Códice, desapareceu. Mas algo ainda hoje se mantém que confirma todo este historial que aqui trouxemos. Se não, vejamos: 
Nunca falham as largadas de touros, durante a Festa dos Capuchos. Quantas pessoas já morreram por causa delas? Nenhuma! E todos os que estiveram em situação mais delicada, ficando contudo apenas com um dedo partido, uma entorse ou simples galo na cabeça, dizem que no momento em que o toiro lhes ia marrar em parte vital sentiram oportuno empurrão que afastou as ornamentações do bicho das suas carnes. 

Quantas vezes houve forte ventania no arraial? Tantas e tantas! De vez em quando, lá se vê uma peruca pelos ares, echarpes voando, as donas atrás delas, em cima dos seus sapatos ou chinelinhos de salto alto, mas do coreto onde não falha uma filarmónica a tocar, já alguém viu voar uma pauta musical? Uma sequer? Jamais! E houve músicos que falaram de fenómeno singular: folhas sendo mudadas, sem eles lhes tocarem, à medida que a música se ia desenrolando.

Não há Festa dos Capuchos sem fogo de artifício, mas tirando uma telha chamuscada ou horta em que se queimam duas ou três alfaces, alguém já viu por causa do fogo haver um incêndio? Jamais! E a Mariana do Cruzeiro, que ali mora, disse que na última festa, quando a corda da roupa começou a arder devido a um foguete, as chamas pararam mesmo junto a uma peça de roupa de baixo comprada no mercado da semana anterior.

Na barraca dos frangos, alguém já ficou com um osso de galináceo atravessado na garganta? Jamais! E o Zé Borrego, que adora frango assado e o acompanha com fartas litradas de tinto, quando já trôpego da bebedeira caiu perto da igreja de Santiago, não sentiu a cabeça ser-lhe amparada por mãos invisíveis, antes de tombar no lajedo, onde caiu suavemente?

Enfim, não nos alonguemos mais em exemplos de bondade do espírito arrependido de frei Bartolomeu, pois os aqui descritos são mais que suficientes. Que os calipolenses e os forasteiros que este ano vêm aos Capuchos se acolham à sua protecção, certos de que nada lhes perturbará o divertimento e a aura que as Festas de Vila Viçosa de há muito têm. 

Quanto à história, os que não acreditaram nela, é porque são mesmo incrédulos. Relativamente a isso, nada a fazer… E não vale a pena procurar a racha na escultura, porque os fradinhos foram recentemente pintados…

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

[0330] Relembrando textos do programa das Festas dos Capuchos (3 - 2006)

 Sobre as Festas de 2022, ver AQUI

Foto Joaquim Saial

Texto de 2006, inserido na publicação Programa das Festas

MOMENTOS CAPUCHAIS

Joaquim Saial

Momento 1 – Largada 

O barulho era atroador. A multidão concentrada em redor da praça acotovelava-se e ululava, acirrando o touro que – considerava ela –, com todo aquele aparato, melhor brilho traria à largada. A Alzira do Aleixo, ao saltar para um tractor, já partira o salto alto de um dos sapatos que calçara no casamento da filha; o velho Chico Carapeta tinha caído por duas vezes das tábuas, pelo que apresentava um galo na testa e levava repetidas vezes a mão ao cóccix; e o neto da Maria Quitéria não parava de chorar, devido a duas estaladas que ela lhe dera, por dizer «Ó avó, ê tenho medo do tôro!». Entretanto, o dito cujo rondava a fonte, arfando sedento, à procura da fresquidão que se desprendia das quatro bicas e da arca de água. Mas o líquido também era motivo de desejo de uma vespa que ele espantou com o rabo e logo de seguida se virou em looping até o atingir com certeira ferroada no cachaço. Vai daí, o animal desatou em correria louca na direcção da Rua de Cambaia, saltou o gradeamento de madeira e seguiu por ali abaixo, depois de partir três ou quatro esqueletos de espectadores próximos e outras tantas montras de lojas. Num último arranque, antes de atingir o Rossio, ainda embateu contra o Zé Feio, que vinha do mercado a comer uma tira de brinhol. E foi isso, a tal coisa amarela de que toda a gente em Vila Viçosa falou durante os meses seguintes, lembrada do que o bicho trazia espetado num chifre quando chegou à mata e entrou pelo restaurante «Os Cucos», sem pedir licença… 

Momento 2 – Concerto

Foi no concerto do Marco Paulo? Ou no do Roberto Leal? Há quem diga que foi no das espanholas Azúcar Moreno, mas como a lenda se instalou, agora é difícil ter certeza absoluta do instante em que a coisa se passou. Certo, certo, é que o Nicas Passarinho já entregara cassetes e CD em tudo o que era editora discográfica e nada. Ninguém queria saber dele. Mas a vontade que o rapaz tinha de triunfar na música era muita e naquela noite estavam no arraial dois ou três repórteres que cartas anónimas suas tinham espicaçado. «Cerca da meia-noite, antes do fogo…», dizia a missiva. E assim foi, no último espectáculo da festa. À hora marcada, com o seu penteado à rockabilly e uma camisa a cintilar de lantejoulas, o Nicas subiu ao palco, arrancou a guitarra eléctrica das mãos de um dos músicos e irrompeu num «Johnny be good» ainda mais faiscante que o do Marty McFly do filme «Regresso ao Futuro». Claro que passou a noite no calabouço da GNR, mas no dia seguinte tinha contrato para a gravação de um disco numa editora do Montijo, o qual vendeu 327 exemplares e que só não teve mais sucesso porque a hora era de hip-hop e não tanto de rock & roll. Ainda por cima com aquele apelido… Mas o anseio cumprira-se. Diz-se que este ano tocará na segunda noite.

Momento 3 – Fogo

Ainda hoje o Manel Palminha se pergunta como o destino foi tão bom para ele. Ia no dia seguinte fazer o mercado do Pinhal Novo e como partia cedo, a fim de arranjar um bom lugar, levou para os Capuchos o carro de caixa aberta já cheio de chouriço, farinheiras e paios, tudo convenientemente coberto com oleados. Deixou o filho na cabine, dizendo-lhe «Olha pela mercadoria, que nunca se sabe» e foi beber uns copos com amigos, antes do fogo. Pouco depois do final do concerto, começaram os rátátás, os fssssssst e os cábuuuns. Colorido intenso, no céu escuro, tudo olhando para o firmamento, carteiristas à coca e em serviço, nisto cai um foguete em quinta próxima, pasto a arder, tudo com medo que tivesse acontecido algo aos cavalos de toureio ali guardados, que relinchavam nas boxes, acompanhados por galinhas cacarejantes, mas era apenas uma delas que tinha pegado fogo e disparara por ali fora, em chamas, só estacando junto à rede virada à estrada para S. Romão, assada e pronta a comer. E foguete seguinte, no carro do vendedor de enchidos, depois de roto o oleado pela ponta da cana afiada e ardente. Um cheiro a chouriço em canasta de barro, toda a gente a aproximar-se do veículo, atraída pelo saboroso odor, e o filho ao telemóvel «Pai, venha já, que isto está a esturricar». Não havia pão, mas a navalha do Palminha cortou mais que muitos pedaços de carne vendida a um euro, mercadoria despachada e gasóleo poupado, da prevista viagem que não se fez. Claro que alguns nacos eram mais tições do que outra coisa. Mas, àquela hora, alguém ligou a isso?...  

Momento 4 – 2006 

E este ano? Decerto acontecerão mil coisas como estas, na festa que afinal tem como mais importante vertente a religiosa, entre muitas outras, de género distinto, para divertida folgança de calipolenses e forasteiros que visitam Vila Viçosa. Que todos se alegrem, em honra dos frades capuchinhos que oferecem o nome ao evento, são os fortes e sinceros desejos da organização.

domingo, 7 de agosto de 2022

[0329] Relembrando textos do programa das Festas dos Capuchos (2 - 2005)

Sobre as Festas de 2022, ver AQUI

Foto Joaquim Saial

Texto de 2005, inserido na publicação Programa das Festas

CAPUCHOS, AINDA, MAIS UMA VEZ E SEMPRE!

Joaquim Saial

Zeus acordou no Olimpo, naquela manhã de Agosto de 2005, com o aborrecido barulho de repetidas trancadas de malho sobre madeira. O pai celeste esfregou um olho, mirou através das nuvens, e disse para Deméter, Afrodite e Hermes, os deuses que estavam mais próximos: «– Lá estão aqueles de Vila Viçosa a montar outra vez as protecções para a largada dos Capuchos. Todos os anos a mesma coisa. E então quando for o fogo é que vai ser o bom e o bonito!» 

Realmente, a Terra dera mais uma volta à roda do Sol. E quando a terminou, perto do termo do estio, numa vila do ocidente da Europa, sul de Portugal, milhares de pessoas esperavam de novo pela Festa, enquanto a pequena parte que tinha obrigação disso a preparava. É que na velha Calípole, a passagem dos anos não se conta pelo 31 de Dezembro, mas por aquela semana especial de Setembro (este ano, de 9 a 14), muito mais importante que quaisquer outras datas importantes… por mais importantes que sejam. É claro que Setembro é mês sempre frio, a carne do pessoal treme e os maxilares batem um no outro. Mas quem é que quer saber disso?…

E Festa com maiúscula, pois então! E dos Capuchos, coisa que mete convento do nome, cheiro a velas, pagamento de promessas, fervorosa devoção a frades de procedência franciscana, missa e tradicional procissão. 

Festa com largada e corrida, esta de habituais grandes cartéis, por onde têm passado sonantes nomes da terra ou de paragens outras, nacionais e estrangeiras, de triunfos memoráveis, bem como de um ou outro desastre, mais ou menos grave – que touros em praça são bolas em roleta de sorte e azar… 

E filarmónicas, a da terra e as convidadas, com músicos que intercalam uma marcha de John Philip de Sousa com uma imperial na barraca dos coiratos e um paso doble com uma boa coxa de frango assado na tenda do Ezequiel Malagueta, regada com tintol de Borba.  

Para não falar do foguetório e do fogo de artifício, coisa sempre de deixar o povo de boca aberta, sujeito a que lhe tombe dentro da mesma uma cana de foguete em viagem de regresso. Os “Ahhh!”, os “Ohhh!” e os “Olha aquele, foi cair na horta do…” são mais que muitos, com os bombeiros atentos, tentando evitar que Vila Viçosa fique careca de árvores como o resto do País.

E concertos para variados gostos – que o sol quando nasce é para todos, embora nem todos gostem de tudo. O palco do largo tem mostrado desde o meloso ídolo da voz romântica aos conjuntos roqueiros de batida pesada, passando pelas meninas sem voz, mas de perna ao léu, e por gente de mais fino gosto, erudição e classe, em entretenimento sortido que ninguém dispensa.

Vila Viçosa retoma nestes dias o seu ciclo festivo, com o entusiasmo costumeiro. E agora que não está só no Mundo, pois descobriu três irmãs, uma em Córdoba, outra em Odón (Madrid) e a terceira mais acima, nas Astúrias, tem responsabilidades acrescidas. O tempo foi curto para projectos comuns, após a recente geminação, mas desde já aqui lançamos o desafio para que em 2006 a Festa se renove sob o lema: “Uma Vila Viçosa/Villaviciosa por todas e todas por uma”, com stands e bancas de produtos regionais alentejanos, andaluzes, madrilenos e asturianos, autarcas, empresários e intelectuais pelo meio, palestras, bandas, artistas plásticos, torneio de futebol luso-espanhol, muita gente de fora a dormir e a comer cá, restaurantes, cafés e bares à cunha, animação com fartura e o mais que se invente, numa mútua e frutuosa troca de experiências, saberes e sabores, em festarola ambiciosa, de arromba e grande estilo… As outras Villaviciosas, pelo que já deram a conhecer, parece que o merecem; a nossa, obviamente, também. O repto está lançado! 

Entretanto, neste Setembro de 2005, que durante meia dúzia de dias os calipolenses se divirtam e não deixem dormir os deuses! 

Boa Festa, com muita alegria! 


[0328] Relembrando textos do programa das Festas dos Capuchos (1 - 2004)

Sobre as Festas de 2022, ver AQUI

Foto Joaquim Saial

Texto de 2004, inserido na publicação Programa das Festas

A FESTA DOS FRADINHOS DE BARRO, DE NOVO...

Joaquim Saial

As caianças foram feitas, organizou-se o programa, alindou-se o largo do convento e a praça de touros, montaram-se as duras traves das largadas, chegaram os divertimentos e as festas religiosas: estas, afinal, razão maior do evento. 

Estão aí as festas dos Capuchos!

De há muito que o calipolense não sabe viver sem elas, esteja no burgo ou mourejando longe dele – no caso, morto por voltar, sob este pretexto que espera sempre com carinho. E é no sucessivo retorno da festa e no reencontro dos que cá vivem com os que regressam fugazmente que está talvez o seu principal encanto. Veja-se como a gente da terra se lamenta (em geral na Praça, debaixo de uma laranjeira, sítio propício ao «corte» e à «costura»), quando a coisa falha: «Este ano não há Capuchos!» A frase, mil vezes repetida, quase soa a «Este ano não há aumentos de ordenado!» ou «Este ano nunca mais chove!» ou ainda «Este ano vai haver muita desgraça!». Mas, verdade seja dita, mesmo em tempos de vacas magras, a Câmara Municipal lá vai arranjando energias e cabedais para que a festarola se faça e a tradição se mantenha. Com agrado geral, como é óbvio, que se está em final de férias e o remate vem a jeito. Digamos que é altura ideal para ir pagar uma promessa aos fradinhos de barro ou pedir-lhes bom ano escolar para o filho que já reprovou três vezes, intercessão na cura de uma doença ou remendo no namoro em perigo... E lá vai toda a gente, estrada fora, vezes sem conta, a pé ou de carro, à tourada, ao arraial, à missa, à barraca dos frangos assados ou à das farturas (perdão, do «brinhol», alentejana palavra quase tão saborosa como o produto que designa), ouvir as filarmónicas, ver o fogo, até tentar a sorte na tômbola. Por vezes, o vento e o frio fazem das suas e as gentes precisam de se agasalhar. Mas no ar paira sempre um calor que nada tem a ver com o atmosférico. É algo de muito calipolense, muito nosso, muito desta «cidade de mármore», como agora – apesar dos dois mil anos passados sobre a descoberta e uso do produto – lhe começam (e bem!) a chamar, gasto que está o epíteto de «nobre vila ducal» ou «vila florida». Porém, de duques ela é (ou foi) e de flores, também. Mármore, duques e flores, boas coisas são e delas nos devemos orgulhar neste momento de Capuchos, mas também de tentativa de elevação de Vila Viçosa a Património Mundial da UNESCO, cujo processo decorre sem alardes, com o cuidado, calma e exigência necessários à obtenção de final favorável. 

Se todos nos soubermos unir em torno deste objectivo comum, que, a concretizar-se, decerto trará alterações qualitativas de grande nível à terra (como tem em geral acontecido nas que receberam o apetecido laurel), então seremos dignos dos nossos antepassados que souberam criar o pequeno universo de beleza que hoje nos cerca e aos visitantes mostramos com tanta vaidade.

Boa festa para todos, bons Capuchos, muita e muita alegria!


quinta-feira, 4 de agosto de 2022

[0327] Era de facto uma bruxa, a bruxa do castelo de Vila Viçosa, pois até viajava no tempo...

Celestino David - desconhecemos a autoria
do retrato, patente no site da Câmara
Municipal de Évora
Temos lido, por várias vezes, que o conto "A Bruxa do Castelo de Vila Viçosa", da autoria de Celestino David, foi escrito para a Livraria Escolar de Vila Viçosa (propriedade de D. Joana Ruivo e situada na Rua Florbela Espanca), em 1984. Ora a não ser que Celestino David, falecido em Évora a 28 de Setembro de 1952, se tenha levantado do túmulo para redigir a curiosa história, verifica-se que há aqui qualquer coisa que não quadra, em termos de datas...

Acontece que a Livraria Escolar foi de facto um farol de cultura literária em Vila Viçosa e a sua proprietária (que ainda conhecemos), era pessoa muito interessada em divulgar as obras que vendia (como compete a um verdadeiro livreiro), permitindo até que algumas crianças e jovens se sentassem no local, a ler o que lhes apetecia (informação recente de amigo calipolense).

Assim, foi natural que ao atingir a Livraria Escolar as suas "bodas de prata", a dita senhora tenha procurado assinalar a data com uma obrinha alusiva a Vila Viçosa, eivada por algum mistério, no caso redigida por Celestino David, beirão (nascido na freguesia de Santa Maria Maior, concelho da Covilhã) que dedicou parte significativa da sua vida ao Alentejo - inclusive exerceu funções oficiais na área do Direito em Vila Viçosa e escreveu sobre Henrique Pousão e Florbela Espanca, por exemplo. E assim saiu uma cuidada edição de 24 páginas, com direcção gráfica e uma ilustração de Armando Alves (mesma, na capa e interior), artista plástico nascido em Estremoz em 1935, parente de D. Joana Ruivo e membro do júri do 1.º Prémio de Pintura Henrique Pousão, em 1985 (ano seguinte à saída do livro), juntamente com a saudosa Maria Helena Vaz da Silva (Centro Nacional de Cultura) e Joaquim Saial.





Posto isto, resta esclarecer a tal "coisa que não quadra". É que o livro não foi escrito para a Livraria Escolar em 1984. Tratava-se de facto de pelo menos uma segunda (?) edição da obra, já que a primeira, cuja data por enquanto infelizmente desconhecemos, foi publicada na colecção infantil "O Nosso Alentejo" pela Gráfica "A Celta", do Redondo. Esta sim, decerto em vida do autor, já que a da Livraria Escolar foi garantidamente póstuma...


Google Books confunde (ou funde) as duas edições, apresentando editora de uma e data de outra...


Celestino David e Vila Viçosa:

1943

1947

1951

BIOGRAFIA DE CELESTINO DAVID