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quinta-feira, 11 de agosto de 2022

[0333] Relembrando textos do programa das Festas dos Capuchos (6 - 2009)

 Sobre as Festas de 2022, ver AQUI

Foto Joaquim Saial

Texto de 2009, inserido na publicação Programa das Festas

O SÍTIO DOS CAPUCHOS E A SUA FESTA, VISTOS DA AMÉRICA…

Joaquim Saial

O Largo dos Capuchos tem momento alto de uma mão cheia de dias, todos os Setembros, e depois apaga-se – literalmente… Finda a festa, desaparecido o público, abaladas as barracas, retirados os altifalantes, desmontados os arcos, limpos os lixos e fechada a igreja que lhe dá título (e a janelinha de fradal e fúnebre recolhimento), retoma o seu ar tranquilo de zona periférica da vila, sempre poético e algo misterioso. Mas não há dúvida de que os Capuchos têm história e manifesta fama no exterior e até na América se sabe do local e do evento que à beira do Outono ali se realiza. Sem mais delongas, divulguemos animado programa e três curiosos factos todos eles esquecidos na bruma do tempo, por nós pesquisados no já desaparecido "Diário de Notícias" de New Bedford, Massachusetts, Estados Unidos da América, um dos mais importantes periódicos étnicos de sempre naquele país (com grafia actualizada). 

30.Setembro.1927 – Vila Viçosa, 25. – Aproximam-se as festas do padroeiro de Vila Viçosa, Senhor Jesus da Piedade, que são por excelência as festas da vila. A comissão organizadora não se tem poupado a esforços para que elas atinjam o máximo brilhantismo e correspondam em tudo às tradições de bairrismo e hospitalidade que caracterizam este bom povo calipolense. As festividades religiosas serão pomposas e brilhantes e principiarão no dia 11 de Setembro [a notícia chegou aos EUA atrasada, como se vê por esta data – ou então queria dizer-se “Outubro”…] pela imponente e majestosa procissão, em que se incorporarão milhares de romeiros e que sairá da igreja de Nossa Senhora da Conceição, recolhendo à igreja dos Capuchos, onde se celebrará a festa a grande instrumental. Os sermões durante os três dias foram confiados a distintos e consagrados oradores. As iluminações serão surpreendentes e o fogo-de-artifício é dos consagrados pirotécnicos Manuel da Silva & Filhos, de Viana do Castelo, que este ano apresentarão verdadeiras surpresas de pirotecnia. A corrida de touros está definitivamente organizada e de maneira tal que satisfará os mais exigentes aficionados. O curro é pertença do conhecido lavrador Francisco Duque, que a capricho fez o aparto, por ser a primeira vez que fornece touros para esta linda praça. Cavaleiros, dois, os distintos e aplaudidos Rufino Pedro da Costa e seu filho Artur Ribeiro da Costa. Bandarilheiros, um belo grupo de profissionais, e forcados o destemido e arrojado grupo de Lisboa capitaneado pelo terrível Chico Marujo e do qual faz parte o valente pegador Matias Leiteiro. Está já assegurado o concurso de três das melhores bandas de música da província, entre elas a Sociedade Musical União Setubalense, que pela primeira vez visita Vila Viçosa. Haverá desafios de futebol e muito em breve deve ser organizado o programa definitivo. (…) Em Vila Viçosa trabalha-se afanosamente para serem recebidos condignamente todos os forasteiros que pela ocasião das festas a visitem.

8.Agosto.1931 – INCÊNDIO NUMA EIRA – Vila Viçosa, Julho 9. – Nas eiras do Outeiro de Ficalho, próximo dos Capuchos, onde diversos agricultores reúnem e debulham os seus cereais, manifestou-se fogo, hoje, quando alguns deles tratavam das suas debulhas, com animais de trabalho. O sinistro teve começo em uma das medas, tendo-se comunicado a todas as demais ali reunidas. Fora inúteis todos os esforços empregados para o dominar. Do quartel do grupo de esquadrões de Cavalaria 3, de onde o fogo foi visto, partiram todas as praças com os recursos de que dispunham, bem como muito povo, logo que foi dado o sinal de alarme, tendo da horta de S. Luís sido levada a água para a extinguir. Apareceram também umas pipas em carros de particulares e uma bomba da Casa de Bragança, conseguindo-se com todos estes elementos salvar os cereais que se encontravam em varias medas na parte Leste, onde ainda as chamas chegaram, animadas pelo vento Norte. Parte dos cereais devorados pelo incêndio estava segura na Companhia Portuguesa de Seguros; outra, na Pátria. O rendeiro das eiras, Manuel Inácio Pereira, sofreu outros prejuízos de importância, pois perdeu uma cabana de madeira e parte dos utensílios que nela tinha. Alguns carros e animais de trabalho que estavam junto das eiras foram salvos com dificuldade. Causou grande estranheza o facto de uma bomba, que há anos fora oferecida, por um particular, à Câmara, ter ali aparecido com a mangueira inutilizada e sem agulheta.

23.Outubro.1933 – ROUBO E BURLA – Évora – No domingo, o motorista Joaquim Lopes, o "Bombo", desta cidade, foi à vila de Azaruja, levar, no seu carro, alguns indivíduos. Ali, apareceram-lhe novos fregueses, que seguiram para Vila Viçosa, onde se realizava a festa dos Capuchos. Quando o carro chegou à referida vila, um dos passageiros pagou a despesa e todos abraçaram o motorista à despedida, e aproveitaram a ocasião para lhe roubarem a carteira, com 2.000 escudos e vários documentos. O "Bombo" regressou, depois, à Azaruja e só então deu pela falta da carteira. Voltou novamente a Vila Viçosa, à procura dos gatunos, que já tinham seguido, também de automóvel, para Estremoz. (…)

20.Outubro.1947 – S. Romão (Vila Viçosa) – Em consequência de um jumento, em que seguia, se ter espantado e saltado um muro, perto dos Capuchos, ficou gravemente ferido o jornaleiro António Espada, de 56 anos, casado, serviçal do sr. João Segurado, lavrador de Vila Viçosa. O pobre homem, que se dirigia para aquela vila, seguiu para o hospital dali, donde transitou para Estremoz.

A todos os calipolenses e forasteiros desejamos, nesta edição de 2009, uma feliz Festa dos Capuchos, com programa a gosto, sem incêndios, carteiras roubadas (que ainda por cima o tempo é de crise) e sobretudo sem coices de burro… mas com animado convívio, boa música, saborosos petiscos, rijas pegas, memorável tourada e alguma inevitável reflexão religiosa, conforme o sentir de cada um – já que a Festa, como o nome bem publicita, se faz em memória dos Capuchos, frades pobres e de benemérito e desinteressado empenho para com o próximo.

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